Intervenção em Lagos - Rua do Jardim

Intervenção num quarteirão do centro histórico de Lagos. Numa 1ª fase os trabalhos incidiram sobre os diferentes edificios que ocupavam toda a zona, recorrendo a metodologias da arqueologia da arquitectura, procederam-se a picagens parietais de forma a perceber a evolução estrutural do edificado, bem como as diferentes técnicas construtivas. Uma 2ª fase precederam-se a trabalhos de abertura de sondagens arqueológicas. Os resultados dos trabalhos mostraram que a devastação ocorrida na cidade de Lagos aquando do terramoto de 1755, a fraca resistência dos materiais construtivos utilizados (taipa) e os resultados das sondagens parietais, levam a crer que as estruturas actualmente existentes tenham sido edificadas no pós-terramoto. A casa senhorial terá, provavelmente, seguido a traça anterior, uma vez que se nota uma planta típica do séc. XVII, com a existência de espaços nobres, zona de serviço, armazéns, cisterna, torre e jardim. A estes espaços foram posteriormente adossadas outras dependências, ultimamente ocupadas por diversas famílias. Todo este conjunto, devido à precariedade do aparelho construtivo, terá sido alvo de constante manutenção e de sucessivas remodelações até às últimas décadas do século XX. Ao nível do sub-solo, foram detectados e escavados vários silos, não tendo sido possível, para já, perceber qual a relação entre as estruturas negativas detectadas na área intervencionada e os silos existentes nas ruas adjacentes. Os silos detectados nas sondagens de subsolo têm o seu momento de abandono nos séculos XV/XVI, enquanto que os presentes nas ruas próximas, tiveram uma utilização, ao que parece, até época contemporânea. Associados ou cobrindo estas estruturas surgiram pisos, geralmente realizados em argamassa e terra batida, bem como estruturas directamente implantadas sobre o substrato rochoso.

No decorrer das doze sondagens arqueológicas no solo, foi possível recolher mais de cinco milhares de fragmentos cerâmicos, atribuindo-se forma a cerca de mil. A diversidade tipológica dos materiais cerâmicos, vítreos e metálicos é grande, destacando-se a cerâmica comum lisa, de vidrado plumbífero e de vidrado estanhífero, bem como faiança, majólica, cerâmica de tipo “berettino”, e cerâmica das oficinas valencianas. Também importante é o interessante conjunto de vestígios osteológicos de aves, mamíferos e peixe, bem como uma colecção alargada de material malacológico, elementos faunísticos que permitem caracterizar os hábitos alimentares da população. A grande maioria do material é cronologicamente enquadrável nos séculos XVI e XVII.

Neoépica - Arquelogia e Património

A Neoépica Lda. procura com este blog o lançar de uma plataforma informativa das suas actividades. Recorrendo a uma fórmula actual, aligeirada e divertida, mas ao mesmo tempo séria e cientificamente válida, pretende-se levar ao grande público o património nas suas diferentes vertentes. O principal objectivo é o sensibilizar e o chamar de atenção para a importância do nosso património, ambicionando-se desta forma a sua cada vez maior valorização como elemento de memória colectiva.