Rua dos Bacalhoeiros - Lisboa

Na sequência das obras de remodelação do prédio que prevêem a picagem integral de todas as paredes e aplicação de novos rebocos e revestimentos, foram abertas sondagens parietais com o objectivo de identificar métodos construtivos utilizados; tipos de aparelho; sucessão de rebocos e revestimentos; alterações efectuadas à estrutura do edifício; e ainda possíveis vestígios da Muralha Fernandina ou Cerca Moura.
Através da análise proporcionada quer pelas sondagens efectuadas quer pela observação das áreas já integralmente picadas, foi possível reunir algumas considerações acerca da estrutura do edifício, sua cronologia e alterações sofridas. Verifica-se que o prédio segue um método de construção simples, utilizando preferencialmente a madeira como material. As paredes mestras, quer das fachadas como as que comunicam com os edifícios de ambos os lados, são constituídas por alvenaria de pedra calcária, de pequenas e médias dimensões e formato irregular, que inclui fragmentos de tijoleira em grande quantidade, unido por argamassa de tom alaranjado e consistência compacta, revestida no interior por uma argamassa de tom mais rosado, por sua vez revestida por reboco fino de argamassa de tom branco e, em alguns casos, por estuque com pintura simples. Nas paredes centrais, aquelas que fazem a comunicação dos apartamentos com a escada, foi utilizada a estrutura de gaiola pombalina, em vigas de madeira com travamento em cruz de Santo André, preenchidas depois por um aparelho maioritariamente de tijoleira e argamassa compacta de tom alaranjado. Também estas seriam revestidas por argamassa de tom rosado e reboco fino. Já as paredes que formam as divisões dentro dos apartamentos, bem como as meeiras da escada, são constituídas por tabique, composto por grandes tábuas de madeira dispostas verticalmente e unidas por pequenas ripas de madeira horizontais em ambos os lados, fixadas a elas através de taxas de metal. Este tipo de parede seria revestido por uma camada espessa de argamassa e esta por um reboco fino. Em termos de composição dos apartamentos e organização de espaços interiores, nota-se desde logo a grande quantidade de portas (comparativamente às casas actuais), fazendo a ligação de todas as salas entre si e suprimindo assim a necessidade de um corredor. Desta forma, excepção feita para as paredes mestras que comunicam com os edifícios existentes de ambos os lados e para a parede de comunicação com a escada, todas as paredes (mestras ou interiores) possuem pelo menos uma abertura, quer seja em forma de janela ou porta. As funções de cada compartimento são ainda nesta época pouco diferenciadas, havendo no entanto uma chaminé em cada casa. A casa de banho terá sido construída posteriormente, aproveitando na maioria dos casos parte do espaço da cozinha.
O tipo de aparelho utilizado aponta para uma época de construção (ou reconstrução) no pós-terramoto, aquando da implementação do plano pombalino na baixa da cidade, muito embora o primeiro registo do prédio surja apenas em 1840.
Não se verificaram alterações significativas ao projecto inicial, à excepção de um possível acrescento ao andar superior, ainda não confirmado. Para além das necessárias remodelações ao nível de rebocos e pintura, surgem apenas algumas alterações no que concerne aos vãos de janela (encurtados com paredes de cimento e tijolo) e a algumas paredes divisórias (que parecem ter sido construídas recentemente). Verificou-se ainda a influência de algumas modificações sociais, que se traduziram em emparedamentos de algumas portas; construção de casas de banho, aproveitando parte das cozinhas; e instalações de água e electricidade que não existiriam.

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